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Todo mundo espera alguma coisa?

Quanto mais envelheço, mais vejo a importância da literatura para a minha saúde. É ela que me dá mais esperança hoje em dia. Fico alegre quando termino uma leitura e fico esperando que a vida melhore.

Não sou um leitor prematuro. Aprendi a me comover com os livros na adolescência. Acho bonitas as histórias de quem descobre esse prazer ainda na infância. Mas só depois que completei quinze anos que entendi que a leitura podia me comover. Foi quando percebi que podia rir e/ou chorar com um livro nas mãos. E mais: que podia sentir asco, raiva, angústia, medo… Que podia experimentar todo o meu corpo ao ler as palavras escritas por pessoas, muitas vezes, distantes no espaço e no tempo. Uma riqueza.

Essa comoção com as histórias dos livros me deu esperança. Hoje, sempre que termino um livro que não me subestima, fico numa esperança quase infantil de que a vida vai melhorar, de que as coisas vão se ajeitar assim que lerem essa mesma história.

Fiquei pensando sobre essa sensação ao ler um livro e percebi que, na verdade, o mundo anda desesperançoso porque o povo não tem lido “bons livros”. A gente não vê mais os bons filmes, nem escuta boas músicas, nem conversa sobre assuntos comoventes, nem ouve mais discursos inspiradores dos nossos políticos. A esperança anda escassa.

Essa semana ganhei um livro novo e comecei a folheá-lo imediatamente, por se tratar de um escritor que eu amo: Rubem Alves. É um livro novo do autor – já falecido –, uma coletânea de crônicas sobre esse tema tão polarizado, mas necessário: a política. Uma visão esperançosa do autor. Alias, esse é o grande legado de Rubem Alves para a literatura e a sociedade em geral: a esperança.

Fiquei lendo algumas crônicas e reparei que está cada dia mais difícil ter esperança com os discursos de hoje dos nossos políticos. No lugar da educação, do amor, do cuidado ao próximo, do esforço para diminuir as desigualdades, falam das armas, do ódio às diferenças, da corrupção, de mais poder e dinheiro a eles… Não há muita esperança no que dizem. E sem esperança, a vida vai endurecendo, perdendo a graça e entristecendo.

Falo de política porque estamos em um momento de intensa disputa. Os EUA estão escolhendo o novo presidente, numa briga marcada por mentiras e muito ódio. Nossa esperança não está na vitória do amor, mas na derrota do ódio. No Brasil é o momento de escolhermos os próximos líderes e as campanhas estão mais pautadas em mentiras e promessas banais do que no amor ao povo. Não se fala muito nessa palavra fundamental para termos esperança: o amor.

Estou pensando sobre isso há dias. Ainda não concluí um raciocínio esperançoso para fechar essa crônica com uma frase “para cima”, como Rubem Alves faria. Mas me lembrei de um verso que escrevi há alguns anos, e é sobre isso: “Esperança é quando a gente espera por algo na companhia do amor”.

Então é isso. Procurem pelo amor. E se faltar o amor, não desista de esperançar, mas de apostar em quem não luta por dias mais amorosos.

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