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Você não é Vinicius de Moraes


Ainda bem.

Lembro de ouvir isso na infância, de um professor ou professora que falava de poesia: "A poesia é para poucos". Em seguida, lia um poema de Vinicius de Moraes e completava: "Não vai existir nenhum outro poeta como Vinicius de Moraes".

Ainda bem também.

Só quando cresci e descobri o meu jeito de escrever que percebi como essas falas eram ruins. Como eram limitantes e não estimulavam os alunos a escreverem. Eu não quis escrever naquela época. Achava que a escrita não era mesmo para mim. Foi depois de dez anos, lendo meus livros, descobrindo os meus gostos, que aprendi que eu não precisava ser Vinicius de Moraes para escrever poesia. Precisava ser eu mesmo, o Lucas, o Lucão, para escrever os poemas que só eu poderia escrever.

Aliás, se aquele professor soubesse que o meu nome "artístico" seria Lucão, o que será que ele diria para mim?

Hoje quero inverter aquela fala ruim. Quero afirmar uma coisa muito certa: Vinicius de Moraes também não poderia ser Lucão. Nem se tentasse muito. Jamais. Por uma ideia muito simples: só eu posso ser eu mesmo.

O problema é que quando vamos escrever, tentamos nos afastar de nós mesmos, tentamos nos aproximar de grandes escritores, dos seus estilos, das suas palavras, e perdemos os bens mais valiosos para a escrita: as nossas histórias e as nossas palavras.

Falas como aquelas, do professor, não nos ajudam a descobrir nosso caminho com as palavras. Não nos incentivam a valorizar nossas histórias nem a transformá-las em poesias. Nos faz acreditar que Vinicius nasceu pronto para ser poeta. E que poesia é para poucos. Mas eu provo todos os dias que isso não é verdade. Mesmo Vinicius pode provar que não foi assim, que teve que ler e desenvolver seu próprio jeito de escrever para se tornar interessante. Se Vinicius imitasse Shakespere, seria, no máximo, uma cópia de Shakespere. Vinicius teve que ser ele mesmo para se tornar um poeta relevante.

Que bom que eu segui o meu próprio caminho e hoje escrevo os poemas que só eu poderia escrever. Bons ou ruins, são meus poemas. É neste lugar que a escrita nos dá prazer, quando descobrimos o nosso jeito, as nossas palavras, nossas inspirações, nossas histórias que serão usadas para criar os versos. Este lugar é muito mais rico do que o lugar de ser alguém parecido com outro alguém.

Nos ensinam que poesia é para poucos, daí descobrimos o nosso gosto pela poesia, desenvolvemos nossa escrita poética e começam a nos dizer que poucos serão como "Lucão", que poucos serão como nós. Eu já ouvi isso também. Eu conheço essa história, é um ciclo vicioso, para amedrontar os próximos que tentarão. Mas eu digo com segurança: todo mundo pode. Todo mundo merece.

A escrita poética é para todos. Desde que cada um siga o seu caminho e ocupe o seu lugar com as suas palavras.

É claro que não é só isso, é preciso estudar, aprender sobre as palavras e a usá-las para construir os poemas. Mas isso é o mais fácil na escrita. O que não está nos livros de redação são as histórias e os sentimentos que só você pode usar.

Você nunca vai ser um Vinicius de Moraes. Ainda bem!

Agora eu quero saber quem você vai ser. Qual o seu nome na arte de escrever os seus próprios versos?


*Aproveite para se inscrever no curso de poesia com o Lucão. As aulas começam no dia 24 de abril. Aqui

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