A atenção é o item mais valioso para a escrita poética. A janela é o item mais valioso de uma casa.
Escuto muito frases como "eu não gosto de poesia" ou "eu não consigo escrever poesia" de pessoas que gostam de poesia e que escreveriam seus versos caso exercitassem mais a atenção.
Dizem que não gostam de poesia mas escutam músicas, assistem a filmes, curtem fotografias, viajam e compartilham frases poéticas nas redes sociais. Dizem que não conseguem escrever poeticamente, mas não anotam as poesias que passam rente aos olhos, como a borboleta pousada "ou é deus ou é nada", de Adélia Prado. Mario Quintana, por exemplo, era um poeta que anotava tudo, até quando ia à praia e percebia que "a sua bundinha deixou na areia a forma exata de um coração".
A poesia não é um bem que poucos têm. É um bem que poucos usam.
Poesia é mais sobre ver do que sobre escrever. Escreve poeticamente quem consegue notar a beleza que acontece ao redor.
Outro dia, fui ao cinema assistir a um filme bonito, mas também triste. E ao fim da sessão, estávamos quase todos chorando. Dava para saber pelo ruído que algumas pessoas faziam tentando esconder suas lágrimas. As fungadas do nariz... Mesmo que triste, era uma cena bonita a que acontecia ali. Então escrevi:
"Ontem, nós dois
choramos juntos no cinema
ao final do filme triste.
Isso daria uma cena bonita
em um filme de amor."
Estar atenta é a minha dica para quem quer começar a escrever poesia. Aumente o volume da escuta, escancare as janelas de ver o mundo e comece a perceber nas cenas cotidianas os versos dos poetas.
Erra quem tenta escrever um poema sem, primeiro, ter visto a poesia passar. Leve seu bloco de notas para a janela. E, antes de escrever, assista.
É a dica :)