Escrever é um crime que compensa.
Por que digo isso? Pois se a gente escreve bem uma história, uma história que convença, as pessoas vão facilmente pensar que a história foi vivida por quem a escreveu.
Não tem como fugir disso, é a sina de quem escreve, responder aos leitores que a história não foi bem assim. Ou que a história não é autobiográfica. Mas não adianta, as pessoas vão ler, e se a história estiver bem escrita, vão acreditar. Pois é isso que se pretende com uma boa escrita, convencer os leitores.
Tentar fugir disso, escritor e escritora, é tão inútil como dizer que você não é a culpada ou o culpado de um crime que cometeu.
Escrever é um crime que compensa.
Pois a história que estou escrevendo é sobre um crime que eu jamais cometeria. Mas, ainda assim, ontem, minha companheira ficou convencida da história. E me questionou sobre os atos. Como se eu, o escritor, fosse o personagem real da história. Como se eu fosse um criminoso. Senti até alegria quando falamos do texto. Pois é isso que eu pretendo quando escrevo, convencer as pessoas. Mesmo que de um crime bárbaro.
Quando escrevi Amores ao Sol foi a mesma coisa. Os leitores chegaram a me mandar mensagens de solidariedade pelo filho que eu havia perdido. Mas quem havia perdido um filho era o narrador do livro, o Luca, não eu.
Isso me alegra. A história convenceu. Escrever é um crime que compensa.
Repito isso para te animar, para te encorajar a escrever as histórias que você quer escrever, sem medo. Deixe as pessoas pensarem. Coloque suas próprias histórias nos textos também. As pessoas, querendo ou não, vão pensar. Deixe-as pensarem. Esse é o maior bem que um bom texto faz ao mundo, fazer as pessoas pensarem.
E quando te perguntarem sobre a história, se é verdade o que você escreveu, negue. Negue até o final. Negue como um criminoso faz, até o último minuto, até o juiz emitir a sentença. Negue.
Em seguida, cometa outros crimes como esse, de escrever suas histórias. Deixe a sentença para os leitores.
Escrever compensa.