Striptease literário
- Lucão
- 7 de mar. de 2024
- 2 min de leitura

Como quem pergunta se pode tirar mais uma peça de roupa quando está na cama, o escritor, muitas vezes, faz isso com o leitor e quebra todo o clima.
Dá para sentir no texto o medo do escritor em tirar toda a roupa. O medo de revelar a história de um jeito mais forte e interessante. Nessa hora, o seu leitor, possivelmente, já está dormindo, cansado de esperar pelo striptease.
Você, escritor ou escritora, que quer contar melhores histórias, precisa aprender a tirar a roupa. E falo isso por mim também. Morro de medo de me mostrar. Ainda não tenho uma foto minha sem camiseta nas redes.
Mas a literatura é isso. Um amostramento. Ou uma exposição. E quando a gente vai a uma exposição, não espera encontrar o artista coberto. Pelo contrário, a gente quer ver o artista, se possível, nu.
É o mais comum este medo, o de tirar a roupa no texto. É o que eu mais escuto de escritoras interessantíssimas, com histórias poderosas na ponta dos dedos, mas com medo do que os outros vão pensar, de como o ex vai se sentir ao pensar que é sobre ele, ou do que a mãe vai dizer... Enfim, não podemos ser esses escritores vestidos na cama.
Tira tudo!
É o que posso dizer a quem escreve, ou até implorar, para que você tire logo a roupa! Uma hora ou outra, caso continue a escrever, você vai sentir o peso de andar com tanta malha no corpo, com tanta blusa de frio no verão literário. É preciso mostrar o corpo. Mesmo que um outro corpo, o da ficção.
Eu digo isso usando, muitas vezes, um suéter, cheio de medos. Mas digo também de bermuda bem curta, depois de mais de duas décadas escrevendo e tirando peças. É que são muitas as peças para se tirar, e quanto mais você tira, mais descobre novas peças. Então comece a tirar logo.
Essa é minha ode ao striptease literário. Mostre a pele, o ombro, o peito. Aliás, o que é a pele senão uma outra roupa?
Pois comece a tirar a roupa, que a roupa nunca acaba.
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