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Será que é verdade?


"Um poeta que não se contradiz, possivelmente deve estar mentindo", foi o que Mario Quintana disse certa vez.

Hoje eu quero repetir o Quintana, mas acrescentar que "Uma escritora que não mente, possivelmente deve estar mentindo".

A mentira e a verdade são igualmente importantes para a escrita literária. Ou melhor, são inevitáveis para quem quer escrever bem e contar histórias.

Um dos comentários mais comuns que recebo quando abro um canal de perguntas com meus leitores é sobre não ter coragem para colocar no papel algumas histórias próprias. Quem diz isso, naturalmente, tem medo do que as pessoas vão pensar sobre o que escreve.

Se você está com medo do que as pessoas vão pensar quando você escreve, você está com medo da coisa mais bonita que as pessoas podem fazer com um texto, que é pensar. Esse ponto já é bacana para nos ajudar a avançar na escrita.

Mas tem o ponto, que eu trouxe no começo desse texto, que é sobre a verdade e a mentira.

Quando escrevemos uma crônica, quando decidimos transformar uma história em um texto, já estamos, de certo modo, contando uma mentira. Porque quando escolhemos as palavras que vamos usar para contar a história, estamos dando a ela o caminho que queremos que ela siga. São muitas as palavras disponíveis para a gente usar em um texto. Escolher palavras é, de certo modo, escolher com qual "verdade" vamos narrar a história.

É claro que há um exagero meu aqui. Mas também há verdade. Escrever não é um ato só de confissão, mas de escolhas. Por exemplo: eu tenho uma história sobre um ex-amigo. Quero escrevê-la em uma crônica. Mas o que eu quero contar dessa história? Que o meu ex-amigo é bom ou ruim? Que esse meu ex-amigo me dá saudade ou raiva? Que a história é engraçada ou triste? Minha história sobre meu ex-amigo pode seguir qualquer um desses caminhos e ainda ser uma história verdadeira para o meu leitor. Pois ela pode ser tudo isso, sem ser mentira ou verdade.

Eu, como escritor, escolho como contar a história. E mais: se quero aumentar a história, diminuir, alargar, encurtar, revirar, transformar em outra, apagar...

Escrever é uma delícia por isso.

Porque quando aprendo a transformar histórias em textos, posso dar novos caminhos a elas. É assim que a ficção acontece na literatura. Não é de lugar algum que a ideia surge. Surge de um acontecimento banal ou de uma história extraordinária, reorganizada por quem sabe escrever e serve à literatura. Ela pode ser aumentada, exagerada... ou reduzida, focada, reimplantada em outra história.

Não escreva para dizer verdades ou mentiras para seus leitores. Escreva para convencê-los de que a sua história é boa. Escreva para fazer seu leitor sentir algo. Algo que você, como escritora, jamais vai conseguir controlar. Escreva para escrever. Escreva porque é gostoso. E desfrute das experiências que o seu texto pronto vai te proporcionar com quem te ler.

Uma escritora que não mente, já mentiu muito antes.


Aproveitando, na semana que vem darei uma aula gratuita sobre a verdade e a mentira. Inscreva-se aqui

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