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Olha as roupas no varal!


Cresci em apartamentos. A maior parte da vida passei nesses lugares apertados, sem quintal e sem varal de roupas. Meus avós, não. Sempre moraram em casas com quintais grandes. Me lembro dessas casas, dos jardins, das roupas no varal...


Quando chovia, alguém gritava: “Olha as roupas no varal”. E a gente parava a brincadeira para catar os tecidos pendurados nos fios que atravessavam os jardins. Me lembro bem desta cena, d’eu e meus irmãos correndo na chuva para salvar as peças.


Na época em que as casas tinham quintais e jardins, o tempo era o das roupas a secar no varal, um ciclo que se repetia e dava ordem ao dia: as roupas sendo lavadas no tanque, depois enxaguadas no balde, penduradas nos fios... Os tecidos balançando ao ritmo do vento, os lençóis e toalhas ainda com cheiro de sabão, eu e os irmãos brincando de “pega” entre as roupas. Essa é a memória, desse tempo em que as roupas penduradas eram uma cena comum.


Nessa época existiam também: os pés de frutas no quintal, as tardes intermináveis de um sábado, as roupas sujas de terra, a casinha do cachorro, a fábrica de saudades... Sinto saudade desse tempo em que precisávamos dos quintais tanto para secar as roupas quanto para enxarcar a infância de brincadeiras gostosas.


Hoje moro em São Paulo, a cidade das máquinas que lavam e secam, dos apartamentos pequenos, das áreas de serviço que mal cabem as pessoas e os serviços, que mal cabem os varais e os tecidos e as crianças e os jardins.


“Olha as roupas no varal”, ainda escuto o grito que vem da casa dos meus avós.


Mas hoje ninguém mais recolhe as roupas.

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