Quando digo que me divirto escrevendo, algumas pessoas pensam que eu escrevo rindo. Ou que eu seja um escritor alegre. Mas não é isso que quero dizer.
Quero dizer que não escrever é triste.
Quero dizer que aprendi a gostar de enfrentar as dificuldades que vão aparecer. Elas vão aparecer. Quem escreve muito sabe. É por saber que escrever é difícil, que enfrento as dificuldades com mais ânimo. Não existe escrita fácil. Aliás, existe. Mas não é dessa que estamos falando...
Não há texto bom sem esforço. A mágica da boa história ou do poema que nasce pronto é mentira. Mas há uma certeza que me anima sempre que escrevo, e isso me deixa feliz: com esforço, o texto melhora.
Não há atalho. É enfrentando monstros, é experimentando caminhos que se encontra o caminho de cada texto.
Por isso, para quem escreve muito, a frustração é um tipo de prazer.
Então eu me divirto escrevendo, com o que sei sobre a escrita, de que não há escapatória: é no pântano que está o tesouro. Por vezes estou na memória de um velório, chorando com quem chora, enquanto procuro por um ângulo diferente ou uma cena que ninguém viu, como a da minha vó sendo feliz e sendo triste no velório do meu vô.
Também não foi fácil escrever o poema para o meu pai caber. Quando meu pai morreu, um amigo me disse que meu pai era tão grande que ia ocupar o céu inteiro. Então, com medo do meu pai não caber no céu, fiz o meu maior poema para o meu pai caber. Escrevi o poema em cinco horas, chorando dentro de um taxi, velando meu pai enquanto viajava para chegar à tempo ao velório. É difícil escrever. Mas não escrever é pior.
É isso que quero dizer quando digo que me divirto escrevendo, que escrever é mesmo uma tarefa difícil. Mas não escrever é pior. É triste.
Escreva :)
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