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O que a poesia nos ensina sobre silêncios


"Amar é ter um pássaro pousado no dedo..."

Quando li estes versos de Rubem Alves, tive que fazer silêncio para pensar. Tive que parar um instante e refletir. Amar é mesmo ter um pássaro pousado no dedo. Amar é essa liberdade bonita. É essa escolha que um pássaro faz ao pousar em um dedo. É essa beleza de poder voar para qualquer lugar, sabendo que se pode voltar. É pousar podendo ir... Pensei nisso tudo. Em silêncio.

Não há como ler um poema e refletir sobre ele fazendo barulho ou estando em um lugar barulhento.

A poesia me ensina sobre os meus silêncios. É preciso fazer silêncio para ler um poema. É preciso ter calma para entender o que acontece em uma boa poesia. Olhar com paciência as palavras de fora. E as de dentro. Pois também é para dentro de nós mesmos que vamos quando lemos poesia.

Digo isso como leitor, mas também como poeta. O silêncio é a chave para se aprender a escrever poesia. Sabe como? Se perguntando sempre: o que eu posso silenciar no meu poema que vai deixar o meu texto ainda mais interessante? O que eu não preciso contar? O que eu posso tirar dos meus versos que vai fazer o leitor pensar mais, ou que vai fazer minha leitora parar para mergulhar na poesia?

É aqui que a poesia nos coloca em um lugar ainda mais interessante na vida, de curtir os silêncios. De perceber as belezas onde as pessoas não percebem, no que não foi dito, numa cena escondida, no escondido...

Poesia é isso, mais silêncio do que barulho. E quando a gente aprende a escrever poesia, aprende a mandar recados mais inteligentes, pois não precisa contar tudo, não precisa dizer tanto para fazer as pessoas pensarem. Aprende a dizer as coisas de um jeito diferente, não-óbvio, fazendo as pessoas se movimentarem mais.

O que a poesia nos ensina é a não menosprezar as inteligências, as nossas e de quem está ao redor. E a vida fica mais interessante... Fica menos barulhenta.

Não se engane. Poesia não é barulho. Nem estrofe e rima. É aquela frase que te cala por um minuto. E muda o caminho em seguida.

"Fazer silêncio é guardar-se para shhhhh..."

Lucão

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