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Ex-amigos para sempre


Vão-se os anéis, ficam os dedos.


Pensei nesta expressão quando percebi que, naturalmente, muitos amigos se vão com o tempo. Eu mesmo já tive tantos. Hoje, adulto, os amigos, os bons, são cada dia mais raros.


Nos anos da escola, fiz boas amizades. Tive uma dezena de melhores amigos, que se trocavam ano após ano. Lembro do Paulinho e do Guinho, na segunda série da Vovó Paulina. Ficamos por três anos como grandes amigos. Morávamos perto, passávamos as tardes brincando em nossas casas, tomando cafés gostosos que nossas mães preparavam, com biscoitos e bolos. Na terceira série, até fugi da escola com o Guinho. Já contei esta história em outra crônica...


Depois, me mudei, fui para outra escola, fiquei amigo do Rubens, que era meu vizinho no Vila Verde e estudava na mesma sala que eu. Íamos e voltávamos juntos para o colégio, depois passávamos a tarde na Vila andando de bicicleta, jogando bola, fazendo casa na árvore. Meu irmão gêmeo também fazia parte desta amizade. Formávamos uma boa trinca de amigos.


No ensino médio, me mudei de cidade, fiz outra lista de bons amigos. Sempre pratiquei esporte, fiz natação, karatê e muitas amizades, principalmente no basquete, um esporte coletivo. Foram cinco anos jogando basquete na escola, competindo em times diferentes, guardando amigos no peito enquanto sonhava com uma carreira esportiva. Não virei jogador profissional, mas como o basquete, trouxe alguns dos vínculos para a vida adulta.


Agora, adulto, percebi que amizade é uma planta que ou você rega ou morre... Talvez a morte seja exagero, mas sem regar, a amizade seca, desidrata. E é difícil fazer reviver esse laço.


Ainda existe a classe dos inimigos, que eu não preciso falar tanto. Tenho poucos, mas sei que existem. Não é como um amigo que se afasta e fim. O inimigo é alguém que se derrota. Na minha vida, é no campo da política que eles mais aparecem. Mas isso é outro assunto...


Porque neste ano, eu estreei outra classe dos vínculos: a do ex-amigo. Achei tão bonito quando percebi que tinha um ex-amigo. Fiquei até comovido.


O ex-amigo é um amigo que não te conta que não é mais seu amigo. No namoro, seria como o namorado que termina a relação por mensagem de Telegram, mas você não tem Telegram.


Descobri há pouco tempo que ele existe. Um amigo que prezo muito, que investi até dinheiro para tê-lo por perto. Me sinto, de certo modo, traído. Nosso vínculo era tão forte, que estávamos mais para noivos do que namorados. Então ele me abandonou na igreja, nunca mais vi, não soube nem se morreu a caminho do casamento.


No fim, é como diz a expressão: vão-se os anéis, ficam os dedos. E o título de ex-amigo, que de tão raro, fica precioso.


Ex-amigo também é coisa para se guardar.

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