Deixe que digam
- Lucão
- 24 de out. de 2023
- 3 min de leitura

É o que eu mais escuto das pessoas que querem escrever mas têm medo: "O que os outros vão pensar?"
E eu sempre fico pensando: "Tomara que pensem". Pois é para isso que escrevemos, para que as pessoas que nos leem pensem. Toda escrita provoca isso, para o bem ou para o mal: o pensamento.
E quando um bom texto nos deixa pensando, não é bom? Sempre me lembro dos bons livros que eu já li, que me deixaram pensando. Gosto de brincar que sou fofoqueiro quando quero dizer que amo a literatura, pois gosto de saber das histórias. E quando uma história é boa, eu quero saber mais.
Tem uma autora italiana que usa o pseudônimo de Elena Ferrante. Talvez muitos de vocês já tenham lido Elena. Pois ela é uma autora que me comove muito. E sempre que leio Elena fico pensando... No fim, quero saber mais sobre a obra e sobre a própria autora, mesmo sabendo que ela não se revela.
Noutra época, quando ainda não conhecia Domenico Starnone e nem sabia de sua possível relação com a autora do pseudônimo Elena Ferrante, li Assombrações, livro do Starnone, e fiquei pensando... Logo me liguei que havia semelhanças com a obra de Ferrante e fui pesquisar na internet. Rapidamente encontrei a história da possível relação de Domenico e Ferrante, deles serem marido e mulher, ambos italianos, ambos escritores.
Fiquei pensando e pensando e pensando. Fiquei fofocando com a minha própria cabeça, imaginando as situações dos dois, imaginando se a história seria mesmo verdade. E se fosse, como seria estar casado um com o outro...
Fora os outros pensamento que Elena e Domenico provocam em mim com cada obra que leio deles.
Fiquei feliz de ter encontrado, sozinho, esta relação da escrita, que se revelou ser também da vida real. Isso tudo fui eu pensando. Meu mérito. Meu prêmio como leitor.
A literatura faz isso. Nos deixa pensando. Mas em quê? Em coisas que estão mais dentro do que fora de cada leitor. Para o leitor, não importa o que é verdade ou mentira. Mas, sim, o que o leitor pensa, o que o leitor sente e para onde ele vai com cada livro. Cada leitor vai para um lugar. Cada leitor pensa de um jeito. E isso é fascinante.
Eu prefiro o convencimento do que a verdade ou a mentira. É para isso que escrevo, para convencer meus leitores. E um leitor convencido é o melhor leitor que podemos ter.
Se nós, escritores, nos lembrarmos disso, do papel de cada leitor, de que cada leitor pensa de um jeito e vai refletir a partir da sua própria bagagem, repertório, memória, conseguimos desencanar e curtir mais a escrita sem pensar em "O que os outros vão pensar sobre o meu texto?".
Pois tomara que pensem. E eles vão pensar, se você se dedicar a uma boa escrita. Deixe que pensem. Esse é o maior bem de um bom leitor, o pensamento. Deixe que viaje com o que você escreveu. Deixe que fantasie, crie histórias, imagine mundos.
É com isso que a gente, escritor, se diverte depois que escreve. Com os caminhos que cada leitor faz a partir das nossas palavras.
Então deixe que digam, que pensem, que falem...
Vai vai por mim.
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