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Congestionamento de pedidos




Uma vez uma amiga que me contou que já havia acertado cinco das seis dezenas de um jogo de loteria. E que, na época do prêmio, tinha ganhado algo equivalente a dez mil reais. Um bom valor para quem nunca havia jogado na sorte. Jogou por jogar, ela dizia. E por isso também não tinha um plano para gastar o dinheiro. Daí, quando uma amiga da minha amiga soube, pediu todo o valor do prêmio emprestado. Era para quitar umas dívidas. Que azar!

 

Até hoje ela não me pagou, minha amiga me atualizou ontem. Uma dívida de anos. A pessoa mais azarada do mundo, era como ela se sentia, mesmo tendo ganhado os dez mil reais num jogo de pura sorte, era o exemplo do mais puro azar. Até quando ganhava, perdia, ela repetia e nós dois ríamos ao telefone. Dava para ver que ela gostava mais de contar a história do que falar sobre o dinheiro. Não precisava do valor.

 

Agora há pouco, ao passar pela porta de uma lotérica, ouvi um rapaz dizer que estava sem dinheiro para ajudar um morador de rua, mas que se Deus permitisse, ia ganhar o prêmio da virada e voltar para tirá-lo dali. Disse isso algumas vezes ao homem sentado na calçada em frente à lotérica, e o homem que pedia o dinheiro dizia amém amém amém para cada promessa. Havia muita esperança no rapaz que ia apostar. No outro, nem tanta. Talvez porque já tivesse escutado essa fala de outras pessoas que passaram por ali.

 

Algumas pessoas têm mais sorte do que outras. Por exemplo, têm pessoas que podem gastar mais dinheiro em jogos de sorte, e isso aumenta a sua própria sorte, deixando-as com mais sorte do que outras. Enquanto eu refletia sobre isso, me desviava de um homem que dormia na calçada de um supermercado, um homem sem sorte alguma. Pensava em como algumas pessoas azaradas precisam de outras mais sortudas para melhorarem de vida. Em como elas precisam aguardar a bonança dos outros para matarem suas fomes. Daí fiquei triste.

 

Neste ano a loteria vai pagar o maior prêmio da história. E as pessoas estão eufóricas. Já ouvi mais de uma dezena dizer que se ganhar vai destinar boa parte da bolada a quem realmente precisa, como se prometesse a Deus uma recompensa. Que trabalho duro o das divindades, que terão que escolher o ganhador. Quem merece mais? O que precisa da ajuda ou o que promete ajudar? Mas quem precisa de verdade quase sempre é o que não pode jogar...

 

Então eu tive uma ideia. Passei na lotérica onde o homem pedia dinheiro e ao invés de dizer que eu não tinha, comprei dois bilhetes. Um para mim, outro para ele. Decidi aguardar a escolha dos céus. Se as divindades forem mesmo espertas, vão cortar o intermediário e premiar o homem faminto. Se não, faço eu o serviço. Promessa minha.

 

E se o prêmio não vier para nenhum de nós? E se for para uma pessoa ruim e egoísta? De quem é a culpa? Alguns vão dizer que as divindades não têm culpa, que o culpado é o homem. Então joguei mais dois bilhetes, para aumentar nossa sorte.

 

Mas já digo a vocês, caso eu ganhe: não me peçam emprestado. O meu dinheiro é para resolver o problema da vida daquele senhor da loteria. E para algumas outras coisinhas que eu já tenho planejado. Caso seja eu o sortudo, não serei como a minha amiga. Serei um exemplo da mais pura sorte.

 

E muito azar a todos!


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