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Casi morí


Toda vez que viajo de férias, esqueço de deixar algumas crônicas para o jornal. E aí, no meio das férias, tenho que trabalhar.


Semana passada estive no Chile, por uma semana. E agora, em Buenos Aires. Aqui, aluguei um apartamento em Palermo, que tem uma varanda charmosa, com uma mesa marrom pequena e um par de cadeiras. A varanda fica na altura da copa das árvores, com as folhas secas do inverno quase triscando a mesa. A cena perfeita para um escritor escrever. Mas a verdade é que está muito frio, eu estou de moletom sobre a cama e coberto pelo edredom.


Vim com minha parceira. E para organizar o que fazer, antes resolvemos assistir a alguns vídeos na internet. Então eu descobri um negócio importante que acontece nas redes: os vídeos de dicas de viagens feitos por qualquer pessoa que viaja. São 10 dicas para você comer bem em Santiago, 7 dicas para você fazer uma viagem inesquecível por Buenos Aires, 15 dicas para não sofrer golpes no Vale Nevado.


Na primeira semana, seguindo as dicas, deixei todo o meu dinheiro em comidas ruins lá no Chile. E agora, na segunda semana, joguei fora o arquivo das dicas, vim para Buenos Aires e estou me sentindo melhor.


Não tenho muito a contar sobre o Chile a não ser que o meu dinheiro ficou todo nas dicas dos viajantes. Já aqui, na Argentina, tenho outras histórias. Por exemplo, ontem, andando pelas estações de metrô de Buenos Aires, um porteño quase morreu. Foi assim: eu estava caminhando pelos corredores da estação Plaza Italia quando um argentino passou ao meu lado, tropeçou nas escadas e caiu. Eu me assustei, e quando perguntei como ele estava, ele se levantou sem me olhar, seguiu rápido com o celular na mão e de longe eu o ouvi dizer: “Casi mori”.


Ontem à noite, fui a uma ópera no Teatro Cólon. Anote esta dica: vá ao Teatro Cólon ver uma ópera. Hoje fomos ao Caminito, e no caminho, de táxi, de tanto ouvir dicas sobre os riscos de golpe nos carros por aqui, desconfiamos do taxista quando ele não virou na rua que o mapa indicava para virar. Foi assim: perto do ponto de chegada, perguntei se o caminho estava certo, e ele respondeu: “Eu conheço minha cidade”.


Cheguei ao Caminito constrangido. Ele conhecia mesmo a cidade. Eu também já conhecia a cidade, já estive por aqui em outro ano, e sabia que aquele caminho estava certo, mas num lapso, me lembrei de um tiktoker que dizia que eu deveria ter medo dos taxistas.


“Tome cuidado com os câmbios do centro”, os tiktokers disseram, mas a verdade é que de tanto alertarem sobre os câmbios do centro, os turistas não estão mais no centro, e o centro se tornou o lugar mais seguro. Então eu digo: tome cuidado com os tiktokers.


15 lugares inesquecíveis para conhecer em Buenos Aires, e agora você tem 15 outros lugares que você deixa de conhecer porque resolveu conhecer os lugares inesquecíveis de alguém que você não conhece. Não era assim que eu viajava.


Cuidado com os taxistas do Chile, e eu não peguei um taxi no Chile. Mas sofri golpe no metrô. Então cuidado com o golpe no metrô. Eu deveria ter andado de taxi no chile. E deveria ter respeitado o taxista da argentina.


Lo siento!

Os avanços tecnológicos têm promovido atrasos imensos.

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