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Tem um minuto para ouvir a palavra de um astrólogo?

Não tenho nada contra quem acredita em signos. Aliás, até tenho amigos astrólogos...


Mas é verdade que tem se tornado cada dia mais chato conviver com os exageros dessa crença. Não há um dia sequer em minha vida em que eu não seja perguntado sobre o meu signo, sobre o meu ascendente, o meu Sol ou minha Lua.


Na semana passada fui tomar um café em Pinheiros, São Paulo. Depois de pedir um capuccino com biscoitos de açúcar, o atendente me disse: “Isso é coisa de taurino”. Demorei a entender que ele estava falando comigo. Só quando repetiu, percebi. “Isso o quê?”, perguntei. “Isso de comer biscoito com cappuccino”, me disse com um sorriso de quem tinha certeza de que tinha acertado meu astro. Enquanto eu pegava meu café, respondi que eu era de virgem. “Então seu ascendente é em touro”, e foi embora sem saber que meu ascendente é em Áries.


Eu só sei que o meu ascendente é em Áries porque uma amiga astróloga, sem que eu quisesse ou pedisse, fez meu mapa. Me fez perguntas, quis saber a hora exata do meu nascimento... Recorri à minha mãe, que me respondeu pelo whatsapp: “20h05”. Não demorou para minha amiga traçar minhas características como se eu e o signo fôssemos um só. É verdade que nos parecíamos um pouco, mas no dia seguinte, minha mãe me enviou nova mensagem dizendo que tinha se confundido, que na verdade eu tinha nascido pela manhã e minha irmã, à noite. Sem graça, enviei a atualização à minha amiga, que refez meu mapa e me mandou minhas novas características por mensagem, dessa vez sem comentar.


Já aprendi a responder que sou perfeccionista, antes de revelar que sou de virgem, só para que as pessoas sintam o falso prazer de adivinhar o meu signo. Mas, no fundo, eu nem sei o que significa ser esse perfeccionista.


Entendo que a pandemia, a política, a virada de ano, tudo isso agrave nosso apego às crenças, até como forma de esperança. Mas está demais!


Ontem postei uma foto do meu rosto nas redes sociais, com uma legenda qualquer e uma leitora me mandou: “Você é libriano, não é?”. Não é! Nem o ascendente nem o Sol nem a Lua nem o mar nem o ar... Nada. Acredito nas coincidências. Mas os desencontros e as falhas também existem, e acontecem bastante, só que não entram para as estatísticas. Esses “furos” ninguém contabiliza.


Minha crença, na verdade, é que o clima, os ruídos, os sabores, os cheiros dos temperos, a temperatura do chão, os quadros pendurados nas paredes, os livros das prateleiras e até os vizinhos sejam mais capazes de interferir na minha personalidade do que os astros que estão há cento e cinquenta milhões de quilômetros de distância da Terra.


Aliás, outra vez ouvi um cientista afirmar que é mais provável que a energia de um poste de luz tenha mais influência sobre a nossa vida do que um planeta tão distante. Sou virgem com ascendente em poste da rua Coronel Joaquim de Bastos, Goiânia, Brasil.


Estou exagerando? Talvez. Mas vocês também estão. Existe muito mais vida além de um planeta Mercúrio dando ré.


Enquanto isso, mais do que desejar, eu sinceramente espero que em 2022 o poste da rua Coronel Joaquim de Bastos emita muitas energias positivas para todos nós!

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